Rousseau e o perigo das mentes revolucionárias que desejam o bem comum


Como a filosofia de Rousseau influenciou as mentes revolucionárias na implantação da supremacia do coletivismo?

Como essas ideias apostaram na existência de um “bem comum” e instigou a necessidade de uma ditadura da minoria para sua implantação?


Tempo atrás acordei com ruídos atípicos. Sons amplificados de discursos de grevistas misturados com uma incessante algazarra de buzinas de carros imobilizados em vias públicas. Eram os funcionários da Unicamp em mais uma de suas manifestações dentro de uma greve que já durava 100 dias e cujas possíveis consequências eu já tinha comentado anteriormente.

Segundo a reportagem da Folha, foram apenas 150 funcionários que fecharam as portarias da universidade, provocaram um enorme congestionamento que alcançou a Rodovia Dom Pedro I e atrapalharam a vida de milhares de pessoas que frequentam o campus diariamente.

Essa é mais uma prova que mostra como a ditadura da minoria tem imperado nesse país. Cento e cinquenta alucinados acham que podem impedir o livre trânsito das pessoas, atacando uma das principais liberdades individuais: o direito de ir e vir. Esses pensamentos, entretanto, não são novos. Eles têm raízes no Iluminismo francês, mais especificamente na obra do filósofo Jean Jacques Rousseau.

Rousseau e o bem comum: sua influência nas mentes revolucionárias

O Iluminismo não é representado plenamente pelas ideias de Rousseau 

Rousseau é classificado como um filósofo do Iluminismo europeu, também chamado de Século das Luzes, berço de um pensamento que estimulou uma restruturação da sociedade baseada no predomínio da razão. As ideias do Iluminismo, influenciadas pelo empirismo inglês, foram escritas durante mais de um século e, apesar de seus diversos autores enveredarem-se pelo caminho da razão, produziram obras muito distintas entre si, as quais provocaram efeitos dos mais diversos no pensamento ocidental.

Rousseau, consciente do fato ou não, produziu conceitos que envolveram as “luzes” com uma consciência tirânica que hoje suporta vários desdobramentos ideológicos do pensamento da esquerda política. Diferentemente da tendência do Iluminismo, Rousseau apelou muito à emoção como o sentimento necessário que deveria conduzir o homem, promovendo assim uma renúncia à razão.

Esse fato denunciou uma vigorosa distinção de seu pensamento se comparado à filosofia de John Locke, representante do empirismo inglês que influenciou iluministas franceses como Voltaire, o qual se notabilizou como um grande crítico de Rousseau. Não é por acaso que Locke termina influenciando a Revolução Americana e seu ideário de liberdade individual enquanto Rousseau, através de Robespierre, a cruel Revolução Francesa e o consequente Grande Terror.

Para conhecer algumas ideias de John Locke, relacionadas ao direito natural e algumas implicações e pensamentos adicionais, leia o artigo “Liberdade e Poder: os direitos naturais de John Locke revisitados“.

Rousseau e seu “bom selvagem”: leniência aos assassinos e o contrato social

O ponto central da filosofia de Rousseau baseia-se na ideia de que a bondade é inerente ao ser humano, mas a sociedade corrompe essa característica natural. Seu pensamento deu origem à ideia de que os assassinos são vítimas da sociedade, ou seja, um claro atestado que menospreza as responsabilidades individuais.

Esse raciocínio reverbera em muitas decisões que vemos na política atual de nosso país, como a leniência do judiciário em relação à prisão de bandidos e tolerância com menores infratores. Um assunto já debatido no blog em “A redução da maioridade penal no Brasil e seus argumentos falhos“.

O filósofo advoga ainda que a liberdade do ser humano é oprimida, e defende que uma sociedade “ideal” poderia ser construída. Tal sociedade é passível de ser colocada em prática através de um contrato social, no qual é enaltecida a soberania “popular” em detrimento às liberdades individuais.

Ou seja, o Estado, representado pelo povo, seria o fio condutor para tal arranjo. Assim, ninguém teria garantias contra um abuso ilimitado do poder que ocorre, sem exceções, em tais estruturas.

A liberdade para Rousseau, evidenciada principalmente através do conceito de liberdade positiva e não negativa (conceitos de Isaiah Berlim, expostos no artigo sugerido anteriormente de John Locke), ainda causa eterna confusão entre a concepção da liberdade natural e os direitos coletivos.

Estes, com suas conquistas incentivadas pela “soberania” do povo, constituem a inspiração principal para as revoluções populares, que são, majoritariamente, um atentado à soberania individual e uma implantação da ditadura de um grupo, promovendo uma nova centralização do poder.

Não é afinal, por coincidência, que Marx e todas as mentes perturbadas que o seguiram e levaram à morte milhões de pessoas no século XX, são influenciados pelas ideias de Rousseau.

Rousseau e o erro do “bem comum”

Há muito mais na filosofia de Rousseau que interessa às mentes esquerdo-coletivistas. O filósofo sonhava com o bem comum, o que é algo temerário, como disse Fernando Pessoa nesse texto do blog. O iluminista francês também se considerava um paladino do bem, a ponto de escrever uma obra – Emílio, sobre a melhor forma de educar as pessoas e os cidadãos, apesar de ter abandonado seus cinco filhos em um orfanato.

Ou seja, sua hipocrisia também foi herdada para os “iluministas” de hoje, que pautam nossos pensamentos e calam nossas reivindicações, como bem filosofou Pondé em seu livro “Contra um mundo melhor”.

Rousseau também arregimenta vários ídolos quando diz que a propriedade privada é uma das formas de corrupção ao homem, embora a história e o mundo atual mostrem exatamente o contrário. Mas lógica nunca foi um dos pontos fortes do filósofo e de seus seguidores. Mesmo no mito do “bom selvagem”, citado anteriormente, não é difícil confrontar a realidade atual e histórica, como guerras tribais, canibalismo e infanticídios indígenas com o ponto central de sua teoria.

Hoje a teoria de esquerda tenta usar o relativismo cultural como sanção para incoerentes tolerâncias sociais. O filósofo foi o precursor, portanto, das doutrinas que solapam as liberdades individuais e glorificam uma suposta vontade coletiva. Uma vontade coletiva que se julga soberana e não possui responsabilidade alguma por nenhum indivíduo.

Movidos pela inveja, seus seguidores acreditam na sociedade como um “ente”, e na utilidade das pessoas apenas como massas de manobra para atingir seus objetivos, como Ortega Y Gasset expôs em seu excelente “A rebelião das massas“.

Gasset, como comentado na resenha de seu livro nesse blog, enfatiza que o revolucionário, rompendo violentamente com o que já foi construído sem propostas reais de superação, ignora a capacidade humana de reter sua memória, e afirma que “romper a continuidade com o passado é querer começar de novo, é aspirar a descer e plagiar o orangotango“.

Rosseau provavelmente não concordaria com suas ideias e ensinou aos seus seguidores a usar primorosamente o discurso emocional e um estilo sentimental para cooptar jovens e tolos para suas fileiras ideológicas, convencendo-os que as multidões revolucionárias possuem a cura para todos os males do mundo.

Triste é ver a América Latina ser hoje um dos principais celeiros dessa herança fanática e ainda povoada por uma maioria que ainda não consegue fazer simples relações e constatar qual o caminho correto para o desenvolvimento das pessoas. Como disse Millor Fernandes certa vez, uma “ideologia quando fica velhinha vem morar no Brasil”.

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9 meses atrás

[…] a substituição da responsabilidade individual por uma tal de responsabilidade coletiva, capitaneada pelos burocratas do governo, com o aumento crescente de seu […]

Jorge
Jorge
1 ano atrás

O Pondé é um filósofo?

Danilo
3 anos atrás

Ótimo texto André.
Meus parabéns…

Abraço!

HEAVY METAL
HEAVY METAL
4 anos atrás

Excelente texto! O iluminado Rousseau, na verdade, vivia com a mente nas trevas

nilce
9 anos atrás

Sua viagem lenta nos faz pensar e refletir sempre, nos trás muitos conhecimentos, parabéns

André Rezende Azevedo
9 anos atrás

🙂

Nina Rezende
Nina Rezende
9 anos atrás

Ótimo texto André! Mas, Rousseau era um romântico e sonhador. Acreditava na bondade do ser humano e que seria possível diminuir as injustiças e afastar os homens da corrupção. Em um de seus livros (não me lembro qual) ele deixa claro que havia se enganado, que suas intenções eram reais, mas, se sentia frustrado porque havia sido mal interpretado e por isso, passou a ser perseguido. Deve ter sido este o motivo que fez com que ele renunciasse a tudo, e deixasse de lutar pelo povo e pelo sonho de um mundo justo. Na verdade, se pensarmos nesta frase dele:… Leia mais »

André Rezende Azevedo
9 anos atrás

Oi Nina! Obrigado! Mas… O problema é justamente esse. No texto eu repeti o que vc escreveu: "O filósofo sonhava com o bem comum…". Mas emendei: "o que é algo temerário." O pior de tudo é que nesse sonho de justiça, enxergou a supremacia do coletivismo necessária para tal. Enxergou a propriedade privada como um problema. Enxergou o problema na sociedade corrupta, e não no homem, retirando suas responsabilidades… E seu pensamento serviu como ração para os lobos que vieram depois. Marx teve o mesmo discurso. Lenin teve o mesmo discurso. Mao Tsé Tung teve o mesmo discurso. Fidel Castro… Leia mais »

Evellyn Souza
8 anos atrás

Gostei do texto.

André Rezende Azevedo
8 anos atrás

Obrigado Evellyn!

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